Tão conhecidos hoje, os Almanaques, híbridos de gêneros literários, os livrinhos de bolso de Cortázar eram inéditos no Brasil.
Em 1967, o argentino Julio Cortázar (1914-1984) lançava o que chamaria de “livro-almanaque”, obra em dois voluminhos para colocar no bolso do casaco. O projeto – híbrido de contos, crônicas, ensaios, poemas e uma centena de imagens –, já naqueles idos, reinventando a literatura, criava uma espécie de blog, quando nem existia ainda o editor de textos e o computador processava mais números que palavras.
Dois anos depois, em dois novos volumes, saía o segundo produto do que em muitos autores seria experiência e em Cortázar era atitude. Respectivamente, A volta ao dia em 80 mundos (vols. 1 e 2, 184 págs., R$ 29 cada um) e Último round (vol. 1, 296 págs., vol. 2, 288 págs., R$ 30 cada um), traduzidos por Ari Roitman e Paulina Wacht, lançados só agora pela Civilização Brasileira.
Em A Volta ao Dia… , o escritor junta suas paixões – entre o humor e a melancolia –, jazz, boxe, artes plásticas, surrealismo, tango (há um disco com letras suas e música de Edgardo Cantón, de 1980), e as viagens de seu xará, Júlio Verne, um visionário. O argentino foi, na ótica com que via não só as formas literárias, mas a existência, um visionário também. Admirado pela crítica, amado pelos leitores, não deixou epígonos. As frestas que sua literatura porosa e heterogênea (talvez seu calcanhar-de-aquiles, sua “irregularidade”) abriu não permitiram que ninguém mais passasse sem ser esmagado pela própria fragilidade.
Último Round completa a seqüência de livros-almanaque. Foram apenas dois. Mas, somados, beiram mil páginas. O segundo título refere-se à então chamada “nobre arte”, o boxe, e provavelmente porque se tratasse do conjunto derradeiro daquela espécie de livro caleidoscópico, típico do autor. Destaque-se, no primeiro, um artigo sobre a hipotética criação de uma máquina (parecida com um fichário) para ler o romance O Jogo da Amarelinha e um ensaio de fôlego sobre Paraíso, de José Lezama Lima. No segundo livro, um ensaio clássico, “Do conto breve e seus arredores”, e um retrato irônico-genealógico dos Cortázars, família que daria, 40 anos atrás, o que no futuro poderia ser um blogueiro. Mas de que blog!
Dois livros inéditos de Julio Cortázar são lançados no Brasil
By: Época
1 comentários: on "Precursor dos Blogs"
Não conhecia este autor, vou verificar.
Sobre os livros de bolso, comprei muito em bancas de jornais, na época existia vários temas, romance, Faroeste, ficção...
Era louco por eles, sempre carregava um...ehehe
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Oiêee!
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