Meninos, mais um no Troca-troca. Estou feliz prá caramba. Chique, não? E o melhor de tudo é que é alguém que eu admiro demais. Seu trabalho é excelente, invejável. Estou feliz por estar
tão bem acompanhada. Estou me referindo ao queridíssimo Ronaldo, editor do grande Qualiblog. E, na sua estréia aqui no nosso Troca-troca, ele enviou um texto de primeiríssima. Bem, sou supeita. Portanto, deliciem-se e depois comentem e digam se tenho ou não razão.
O Ditador 2.0
Em 2010, um ano após a grande disseminação do G1 e do Android, que se tornara o padrão em sistema operacional para celulares e demais tecnologias móveis, ele era uma criança como outra qualquer. Assim como seus coleguinhas, ganhou seu primeiro celular recheado de recursos, com tela sensível ao toque e Street View, o que permitia que sua mãe monitorasse todo o trajeto que ele fazia quando saia de casa. Foi esse recurso que o deixou intrigado e curioso, queria saber como funcionava. Descobriu que o carro do pai também tinha o mesmo recurso e um dia perguntou:
- E se eu não quiser que saibam onde estou?
O pai riu, olhou para a mãe e brincou – E eu posso saber por que um garotinho desse tamanho se preocupa em andar por aí sem que os pais saibam onde ele está? É só para sua segurança, filho… – o garoto começou a olhar desconfiado para o seu celular. Se ele saia da escola e parava na pracinha para brincar, logo sua mãe ligava. Se ia tomar um sorvete, idem. Uma noite o pai e a mãe discutiam pelo mesmo motivo; ela cobrava dele explicações sobre um desvio do seu caminho normal e que ela havia notado pelo computador que o carro do pai ficara parado por muito tempo numa rua que não era usual.
Novamente ele olhou para o celular, uma caixinha brilhante que já o conhecia bem, pois ao ligar, o sistema lhe cumprimentava com cordialidade e perguntava se queria jogar xadrez com ele, ou com Marco, seu melhor amigo. Quando parava na sorveteria, o celularzinho vibrava e avisava que o sundae de amora, seu preferido, estava em promoção! O que ele queria mesmo era saber como aquele aparelho podia fazer tudo isso! E essa idéia acabou virando uma fixação…
Os anos passaram, ele se formou em Engenharia de TI e seu TCC foi exatamente sobre o Android, que então se tornara um padrão mundial utilizado pelos governos para monitorar de veículos oficiais a funcionários públicos. A maioria dos países adotara o uso de implantes baseados na tecnologia Google, que investira bilhões no desenvolvimento de um nano-chip que era colocado sob o couro cabeludo e incorporava-se ao crânio. Através dele as pessoas podiam fazer mil coisas, desde controlar aparelhos, sistemas de reconhecimento, compras com débito instantâneo em conta corrente… Os computadores reconheciam os usuários por aproximação e era comum você entrar em uma loja e um sensor cumprimentá-lo e ofertar itens das seções que você mais visitava. O trabalho de Conclusão de Curso acabou chamando atenção e ele recebeu um convite para trabalhar lá, no Google. A matriz ficou impressionada com o conhecimento que ele demonstrava sobre o sistema e a cada dia que passava ele descobria mais, e ficava mais comentado nos corredores do Google. Depois fora da empresa, e depois mundialmente, ao participar em um web-seminário sobre a evolução do Android, transmitido diretamente da ONU! Virou celebridade, todo mundo ouvira falar sobre o jovem que conhecia cada detalhe do imenso e complexo sistema que o Android se tornara, e que acabou sendo o idealizador de diversas melhorias hoje impensáveis!
Nessa época, os implantes Google eram inseridos nos bebês logo que nasciam. Desaparecimentos, trocas de bebês e atrocidades envolvendo crianças foram simplesmente varridas da história. Pedofilia virou lenda urbana, um dos símbolos da barbárie do passado. Todas as atividades humanas que envolvessem identificação e rastreamento do indivíduo eram realizadas com a rapidez do onipresente Google, a polícia contava às vezes em milissegundos o tempo de localização de um criminoso. Realmente, a Terra virou um lugar bom para se viver… Haviam exceções, claro! Alguns rebeldes nos países de terceiro mundo se recusavam a usar a tecnologia, mas ficavam limitados a uma espécie de pré-história tecnológica. Não tinham acesso à internet, crédito, escolas de qualidade, emprego… Viviam da boa-vontade dos governos populistas, que os mantinham em reservas naturais, onde podiam manter-se longe do desenvolvimento do mundo real. Quando um ou outro escapavam e entravam nas áreas urbanas, o sistema alertava da presença de indivíduos sem identificação e da queda do nível de segurança que isso representava. Rapidamente eram capturados e segregados. Mas não pensem que isso era uma crueldade! Eles optaram por viver assim e o governo não era inflexível! Quando capturados, recebiam antes da deportação para as áreas de sombra (as reservas, onde o sistema não operava) uma opção de se integrarem. Caso aceitassem, iam para centros de treinamento, recebiam seus implantes e tinham a chance de viver na sociedade civilizada. Para muitos deles esse processo funcionava muito bem, tanto que os rebeldes diminuíam a cada ano!
Com o tempo seu nome se tornou sinônimo de Google. E de sucesso! Ele chegou ao posto máximo dentro da companhia, com 38 anos era o presidente mundial dela. Quando o governo decidiu que precisava ter maior autonomia sobre criminosos internacionais ele foi procurado em sigilo e ouviu impassível a proposta dos emissários. Perguntaram quanto tempo era preciso para que uma tecnologia com determinadas capacidades digamos, mais invasivas, fosse desenvolvida para permitir certo nível de tomada de decisão sobre as ações dessas pessoas.
- O que eu ganho em troca? – disse. Os homens se entreolharam, mostraram para ele uma maleta e ele se pôs a gargalhar. – Dinheiro!? Senhores, dinheiro eu tenho de sobra! Olhem em volta de vocês… Chega a ser ingenuidade proporem isso… – chegou a lacrimejar de tanto rir. Os homens, embaraçados com a situação, fecharam a maleta e saíram da sua sala. Após fecharem a porta, seu semblante mudou. Ficou sério e foi até sua mesa, O computador reconheceu imediatamente a mudança em sua pulsação e antes mesmo que ele desse o comando, abriu uma janela privativa do Chrome. Pediu ao sistema a identidade dos dois visitantes que estiveram em sua sala e digitou rapidamente sobre a superfície polida da mesa alguns comandos nunca antes usados. Tinha chegado a hora!
Imediatamente, aqueles dois sentiram a mudança. Pararam o carro sobre a ponte e abriram a maleta, despejando todo o dinheiro que levavam. A confusão chamou a atenção da imprensa, claro! Eles juraram em rede mundial que fizeram aquilo por livre vontade e declararam que o dinheiro era de origem ilícita, fornecido pelo governo para uma operação de interesse do estado e que por isso decidiram devolvê-lo ao povo. Em segundos a mídia internacional mostrava o escândalo em rede mundial. Os nomes dos protagonistas galgaram o ranking das buscas na internet e até o final do dia ocupavam o primeiro lugar em todas as listas. Como não revelaram qual era a tal operação, os especuladores se agitavam nas discussões sobre o assunto.
Ele assistia tudo isso de sua mesa, numa ampla sala com vista para o por do sol… A janela negra do navegador esperava silenciosa, no canto da tela. Mais uns poucos comandos na superfície sensível da mesa e uma lista dos dirigentes mundiais, sua localização atual, seu poder de influência, dados sobre o perfil de cada um, tudo. Tudo desfilava na janela negra.
No dia seguinte a ONU estava em polvorosa. Durante a noite convocou todos os países membros e uma infinidade de jatinhos atravessou os céus como pássaros migratórios, todos com destino à sede da Organização. Em uma tranqüila seção chegaram à unânime decisão de que o presidente do Google, que tanto bem e tanta evolução trouxe à humanidade, era a pessoa perfeita para assumir o cargo de Presidente Vitalício da Terra.
1 comentários: on "O Ditador 2.0 (Troca-troca)"
Oi,
vim agradecer a visita e principalmente ao comentário.
Botei seu blog na lista de acompanhamento ok?
Abraços,
Carlos Zev Solano.
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Oiêee!
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