QUE INDEPENDÊNCIA ?

O Brasil não é para principiantes. Acompanhem, por exemplo, esta pequena lista de eventos tresloucados:

- A independência foi feita por um português;

- A República foi proclamada por um monarquista;

- A revolução contra as oligarquias (1930) foi feita pelas oligarquias;

- O presidente da redemocratização de 1946 foi o ex-ministro da guerra da ditadura do Estado Novo;

- O presidente da redemocratização de 1985 foi Sarney, ex-presidente da ARENA, o partido da ditadura militar;

- A ARENA, essa excrescência dos tempos do autoritarismo, sigla lambe-botas dos generais ditadores, mudou de nome e passou a se chamar Partido Democrático Social (PDS). O PDS deu origem ao Partido da Frente Liberal (PFL) que agora, e só pode ser sacanagem, atende pelo nome de Democratas (DEM).

É piada ou não é?

Não é piada. Há, quero crer, uma explicação para essa maluquice toda. O Brasil tem uma elite que nunca se caracterizou pela consistência ideológica de suas posições. O que mobiliza a elite brasileira, desde pelo menos a independência, é o desejo de manutenção do poder. O português rompe com Portugal, o monarquista vira republicano, o oligarca rompe com as oligarquias e o ditador vira democrata porque a necessidade de manutenção do poder assim exige.

É triste constatar que a independência do país não trouxe qualquer alteração de ordem social; a escravidão foi mantida, o latifúndio foi preservado e adotou-se o voto censitário, restringindo a participação política aos possuidores de renda. A República, por sua vez, foi proclamada com o apoio de senhores de escravos que romperam com a Monarquia após a lei Áurea, enfurecidos porque perderam seus negros e não foram indenizados pelo Império.

O que dizer, por exemplo, da cara de pau de gente como Antônio Carlos Magalhães e José Sarney, entusiastas da ditadura militar que, quando viram que a vaca fardada estava atolando no brejo, transformaram-se em convictos democratas, numa das maiores piadas da história recente do país? Sarney e ACM mereciam ganhar o troféu óleo de peroba republicano, para lustrar suas respectivas carantonhas.

Tenho, por exemplo, a convicção de que se, nos anos sessenta, o Brasil fizesse uma revolução comunista vitoriosa e adotasse um modelo pró- União Soviética, Sarney seria um revolucionário de primeira hora. Deixaria o bigode mais parecido ainda com o do camarada Stalin e passaria a utilizar o nome político de José Sarnovisk. Antônio Carlos Magalhovisk também estaria nessa onda vermelha. Este último, inclusive, já deve ter mexido seus pauzinhos e não duvido nada que esteja ocupando um altíssimo posto no reino do pé de bode, nas profundas, onde atualmente se encontra. Te cuida, demônio, que o homem ainda vira pelo menos primeiro-ministro do inferno.

Digo tudo isso para, finalmente, revelar minhas intenções modestas com esse arrazoado. Hoje, 7 de Setembro, é o aniversário de uma das independências mais insignificantes que a América conheceu; a nossa.

Não me comovo minimamente com o grito do Ipiranga, os arroubos do Imperador, o dia do fico ou coisa que o valha. A independência, da maneira como foi alcançada, não engrandece a nossa história. As elites que apoiaram D. Pedro fizeram de tudo para articular um processo de libertação quase clandestino, excluindo as camadas populares e os setores urbanos mais radicais. O negócio era romper com Portugal preservando a estrutura social vigente, escravocrata e fundada na concentração de terras. A velha história de que é necessário mudar para que tudo permaneça como sempre foi.

É por isso que a data é incapaz de comover especialmente o povo do Brasil. Como comemorar um processo desses, em que um português dá um grito quase clandestino nas proximidades de um riacho obscuro, se transforma em Imperador e tudo continua como dantes no quartel de Abrantes? Não dá.

Temos um tremendo desafio. Como transformar o país, se a elite tem a característica histórica de se adequar a qualquer desejo de transformação e comandar o processo de mudanças para, no fundo, evitar que as mudanças ocorram? É por isso que, ao observar algumas características do atual governo, me dá uma certa desesperança.

Sarney é figura querida no Palácio do Planalto, Delfim Neto é consultado em relação aos rumos da economia, o presidente Lula nomeia o reacionário da Opus Dei Carlos Alberto Direito para Ministro do Supremo Tribunal, Valdir Pires é substituído no Ministério da Defesa pelo fanfarrão Jobim, Romeu Tuma Filho assumirá cargo importante na segurança pública e Henrique Meirelles é presidente do Banco Central.

Quando lembro disso, não sai da minha cabeça a imagem de um português sendo aclamado Imperador do Brasil, sob aplausos entusiasmados dos senhores de escravos e grandes latifundiários. Os donos das terras, chibatas e pelourinhos , com a artimanha de se transformar no que é conveniente, estão no poder até hoje. Urge proclamar, de fato, a Independência, maiúscula, definitiva e popular.

Escrito por Luiz Antônio Simas em 07/09/2007


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1 comentários: on "QUE INDEPENDÊNCIA ?"

Nanael Soubaim disse...

Em resumo é isso mesmo. Adianta eu continuar gritando? Não, passei a trabalhar nos bastidores de um blog.

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