O mico do Rolex

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O ano é 2003. O então presidente nacional do PTB e ex-caixa da campanha de Lula, deputado federal paranaense José Carlos Martinez, quer fazer uma gentileza com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu em seu aniversário e o presenteia com algo cobiçado.

Na época, o editorial do jornal  O Estado do Paraná registra textualmente que "o presenteante é um empresário e político, dirigindo um partido voltado programaticamente para a massa trabalhadora, e o presenteado, um membro ilustre do PT, ex-exilado em Cuba, com uma longa e penosa trajetória na clandestinidade, por suas ideias socialistas".

Prossegue o jornal salientando que "o presente não foi nenhum martelo ou foice, sem nenhuma referência ao símbolo do extinto PCB. Nem uma foto do até hoje admirado Che Guevara - mas um símbolo do luxo, da riqueza, da burguesia". Um Rolex!

Trata-se de um dos mais caros relógios do mundo, objeto de desejo dos ricos e também dos ladrões. Talvez a provar a assertiva de Joãozinho Trinta, o famoso carnavalesco, de que "quem gosta de pobreza é intelectual" e que "pobre prefere o luxo", o presente saiu de um trabalhista para um defensor dos excluídos.

José Dirceu recebe o mimo e, segundo relata, vai dormir. Só no dia seguinte lembra-se de que, como ministro, estava proibido por normas éticas do Planalto de aceitar qualquer presente com valor superior a R$ 100. Assim, o presente tem de ser devolvido ao presenteante ou doado à União.

Como o Rolex passara a ser uma batata quente em suas mãos, José Dirceu apressa-se em doar o relógio ao programa Fome Zero.

É aí que surge o "mico".

Levado para avaliação - certamente para ser vendido ou leiloado em favor dos famintos - descobre-se que o relógio era falso, desses comprados no Paraguai, ou em Chinatown (NY), por uma ninharia.

José Dirceu comunica a descoberta ao deputado Martinez, que recebe o relógio de volta, desculpa-se acanhado, revelando que o comprou de "uma pessoa sem importância" de Curitiba, por R$ 5 mil. De raiva, Martinez joga o Rolex no mato.

Lembrando que "quem compra mal, paga duas vezes", Martinez vai à melhor relojoaria de Curitiba e adquire um Rolex verdadeiro, por R$ 12 mil  Dá-o, então, ao ministro chefe da Casa Civil que - coerente com sua reação anterior - encaminha a preciosa peça ao Fome Zero.

O jornal paranaense, então, encerra seu editorial afirmando que "neste governo, voltado para os trabalhadores e para os problemas sociais, uma estória como esta não é das mais adequadas". E justifica: "um Rolex de ouro não combina com Fome Zero, desemprego e outras lutas por justiça social, abraçadas pelo governo Lula e seus aliados".

E arremata: "não se esperava que a turma do governo andasse esfarrapada e comprando em lojas de R$ 1,99, mas Rolex, Ferrari, Maserati e duplex de cobertura destoam".

Não demora muito estoura o escândalo do mensalão - mas isso é outra história.

Quanto ao Rolex, não se sabe quem o arrematou no anunciado leilão.


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1 comentários: on "O mico do Rolex"

Nanael Soubaim disse...

Aos falsos, o ouro de tolos.

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