Cercado por paredes e cercas altas, sob o olhar atento dos guardas na torre de observação e monitorado por câmeras de circuito fechado de TV, o pátio interno da prisão é um lugar desolado e pouco convidativo.
Mas a música é um indício de que nem tudo vai mal nesta penitenciária.
No auditório, mais de 300 prisioneiros se preparam para um concerto.
A metade estuda instrumentos como violino, tuba, contrabaixo ou saxofone, enquanto outros estudam canto coral.
As aulas e ensaios da orquestra e do coro são de longe as atividades diárias mais populares oferecidas nesta prisão - mais procuradas do que as aulas de carpintaria, costura ou funilaria - contando com a participação de mais de a metade dos presidiários de Coro.
"Me sinto tão bem quando estou tocando, muito orgulhoso", disse o músico Elisaul Salas, de 23 anos.
"Ser o primeiro violino é uma grande responsabilidade e se eles confiaram em mim o suficiente para me colocar nesse papel, isso faz com que eu queira seguir em frente".
Instrumentos ou armas?
A orquestra da prisão é parte de um programa de educação musical muito admirado na Venezuela, conhecido no país como O Sistema.
Criado há 36 anos, o projeto pioneiro vem ensinando crianças carentes a tocar música erudita, o que resultou na formação da famosa Orquestra Jovem Simón Bolivar.
A ideia de levar o programa para as prisões do país partiu de um ex-integrante de orquestra jovem e advogado especializado em direitos humanos, Lenin Mora.
"No começo havia algumas dúvidas, porque alguns instrumentos podem ser transformados em armas, por exemplo, as cordas de um contrabaixo ou de um violino podem ser usadas para enforcar alguém", disse Mora.
"Graças à forma como as coisas vêm funcionando nas prisões onde entramos, isso nunca aconteceu. Os presidiários tomam conta dos instrumentos porque veem isso como sua responsabilidade".
Antes de ser admitidos na orquestra, os prisioneiros devem mostrar bom comportamento. Os professores também insistem em bons padrões de higiene e aparência.
Os participantes assistem aulas ou participam de oficinas práticas oito horas por dia, cinco dias por semana.
O programa conta com a participação de sete prisões e deve ser expandido para outras três no final do ano.
A meta dos organizadores é oferecer lições de música em cada uma das 33 prisões da Venezuela, mas as condições em algumas cadeias dificultam este objetivo, ao menos a curto prazo.
Rebeliões e violência são frequentes em muitas prisões, onde a superpopulação é um problema constante.
Na prisão El Rodeo, nas imediações da capital, Caracas, mais de 20 pessoas foram mortas após uma rebelião em junho.
Detenta da penitenciária de Coro toca violoncelo
Após o incidente, uma tentativa da polícia de fazer uma busca na penitenciária para apreender armas e drogas provocou mais três mortes e um longo confronto com prisioneiros.
Mas em Coro, a mais nova penitenciária do país, a orquestra tem sido um grande sucesso, dizem funcionários e prisioneiros.
"Notamos uma grande melhora nos prisioneiros", disse o diretor da prisão, Abel Jimenez.
"Temos pessoas que eram, no passado, alguns dos prisioneiros com pior comportamento, e hoje estão entre os melhores da comunidade, com conduta impecável por mais de dois anos".
E há indícios de que os benefícios duram muito tempo após a libertação dos prisioneiros.
Um exemplo é o caso de Ramiro Rondon, de 28 anos, vivendo hoje em Caracas. Ex-integrante de uma gangue, Rondon passou mais de três anos em uma penitenciária em Merida, onde aprendeu a tocar clarinete.
Libertado há um ano, ele está agora fazendo um curso para aprender a restaurar e consertar instrumentos musicais e ainda faz aulas semanais de clarinete.
"Minha vida mudou 100%," ele diz. "No começo era difícil, mas hoje estou mudado, trabalho duro e tento fazer o melhor."
By: BBC Br.
1 comentários: on "Orquestra de presidiários na Venezuela"
Por aqui os violinos chegariam só na casca, as cordas seriam desviadas. Aliás, o Ogro Chávez não deve saber tocar nada, não o vi nas imagens.
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