Cientistas conseguem desvendar efeitos da sepse no organismo

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Ao desvendar parte do que ocorre com o organismo durante uma infecção generalizada, a chamada sepse, pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (FORP) da USP, liderados pela professora Maria José Alves da Rocha, dão um importante passo para entender alterações hormonais e cognitivas em pacientes que passam por esse processo. Uma das possíveis consequências da sepse no organismo é a encefalopatia, ou seja, alterações no encéfalo decorrentes de inflamação. Esse processo leva o paciente a alterações cognitivas, confusão mental e espacial e, também, a mudanças hormonais. “Demos um importante passo para desvendar esse processo”, avalia.

Os pesquisadores conseguiram confirmar a presença de marcadores de apoptose — processo de morte celular programada — em neurônios hipotalâmicos que sintetizam o hormônio vasopressina, que tem papel vasopressor (contrai os vasos) e cuja secreção está alterada durante a sepse.

A pesquisadora explica que durante a fase aguda da doença o organismo começa a apresentar hipotensão, baixa sistêmica da pressão arterial. Isso, junto com outros sinais, leva o cérebro a produzir o hormônio vasopressina na tentativa de contribuir para o restabelecimento da pressão arterial. “A hipótese é que na fase tardia, a sepse enfraquece o barorreflexo, que é a resposta nervosa à alteração da pressão arterial.”

O estudo do comprometimento neuronal é parte do mestrado da alemã, Karin Riester, da Universidade de Tübingen, Alemanha, que dentro do programa de intercâmbio entre a USP e a universidade alemã, esteve durante dez meses no Laboratório da professora Maria José, na FORP. Para Karin, que em Tübingen é orientada pelo professor Hans-Peter Mallot, os resultados podem explicar não só as alterações neuroendócrinas durante a sepse, mas também as alterações cognitivas que alguns pacientes apresentam após sobreviverem a doença.

O grupo liderado pela professora conta, ainda, com graduandos, pós-graduandos e pós-doutorandos, que utilizam diferentes metodologias para avaliar os genes envolvidos nesse processo. “Acreditamos também que durante a sepse a quantidade de mediadores inflamatórios, acaba levando ao estresse oxidativo, isto é, a dificuldade da célula em respirar. Isso altera a sua capacidade de sinalização e pode gerar uma pré-apoptose, morte neuronal programada”, diz Maria José.

Tarek Sharshar
Atualmente, são pelo menos mais três pesquisas diferentes sobre o mesmo tema que se completam e que estão em desenvolvimento no laboratório da professora, todas com animais. Ao longo de mais de cinco anos de pesquisa sobre sepse, os resultados alcançados pelo grupo da professora Maria José renderam cerca de 11 trabalhos publicados em revistas especializadas que levaram um dos mais importantes especialistas da área, o francês Tarek Sharshar, a citá-los em alguns dos seus trabalhos.

O professor francês estará em Ribeirão Preto, de 24 a 30 de setembro, para discussão de pesquisas conjuntas. Sharshar também ministrará disciplina de pós-graduação na FORP e na FMRP, além de palestra.

O laboratório da FORP faz parte da Rede Nacional de Sepse, juntamente com a Universidade do Extremo Sul Catarinense, em Criciúma, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), na capital. A Rede faz parte do programa PROCAD da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Proteínas e morte celular
Entre os trabalhos que estão em desenvolvimento está a iniciação científica de Paulo José Basso, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, que trabalha no reconhecimento de proteínas que podem estar envolvidas na morte celular pela via intrínseca da apoptose. “A apoptose tem duas vias básicas, a extrínseca e a intrínseca. Esta última é meu objeto de estudo”, diz Basso. Já Tatiana Tocchini Felippotti faz pós-doutorado no Laboratório e inicia a investigação sobre as alterações hormonais em animais que sobrevivem a sepse.

Já a pós-doutoranda Gabriela Ravanelli de Oliveira Pelegrin, usa técnicas de biologia molecular para investigar os RNAs mensageiros e a expressão de proteínas envolvidas no comprometimento neuronal no processo de sepse. “Queremos identificar possíveis alterações no conteúdo de RNA mensageiro nos núcleos que produzem hormônios neurohipofisários. Dados preliminares já indicaram que essas alterações existem”, conta. Gabriela explica que a vasopressina contribui para a regulação da pressão arterial, pois tem papel vasopressor. Entretanto, ainda não se conhecem os mecanismos que levam a secreção inadequada da vasopressina nas fases tardias da sepse, quando a hipotensão é bem grave.

“As hipóteses clínicas, em humanos, levantadas por Sharshar, e pelas pesquisas da professora Maria José, em animais, é que acontece o enfraquecimento do barorreflexo, o que contribui para a hipotensão e choque séptico. Além disso os estoques de vasopressina na neurohipófise estão diminuídos”, destaca. Mas se a questão fosse só essa, diz Gabriela, então bastava utilizar a vasopressina para restabelecer a pressão do organismo, “mas parece que existe o momento certo para se utilizar a vasopressina, ou então os efeitos colaterais podem ser muitos, e é nesse ponto que queremos chegar, além de entender todo o processo.”

Mais informações: email mjrocha@forp.usp.br, com a professora Maria José Alves da Rocha


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1 comentários: on "Cientistas conseguem desvendar efeitos da sepse no organismo"

Nanael Soubaim disse...

A cada avanço científico, confirma-se para mim que o cérebro é extremamente burro, não passa de uma moden-roteador biológico incapaz de sair daquilo para que foi programado. Qualquer disfunção hormonal o coloca em pane, e os patogênicos não desperdiçam a chance.

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