A revista ISTOÉ desta semana publica matéria especial sobre a fascinante história de Aracy Guimarães Rosa, uma brasileira que nas veredas de sua vida ajudou a salvar dezenas de judeus do nazismo e foi colocada por Israel no mesmo patamar de mitos como Oskar Schindler.
Uma heroína quase esquecida
Em 1985, Aracy vê seu nome no Jardim dos Justos. Ao lado, o diploma do Museu do Holocausto.
A fascinante história de Aracy Guimarães rosa, uma brasileira que ajudou a salvar dezenas de judeus do nazismo e foi colocada por Israel no mesmo patamar de mitos como Oskar Schindler.
Dona Aracy está prestes a completar 100 anos. Mora com o filho único Eduardo e a nora Beatriz num apartamento no bairro dos Jardins, em São Paulo. Ela já não anda e não reconhece ninguém, à exceção do filho, vez por outra. Sofre do mal de Alzheimer. Sob os cabelos completamente embranquecidos, brilham olhos faiscantes. Um sorriso maroto, intermitente, brota de seu rosto, resgatando de maneira tênue a energia da mulher corajosa, determinada e inteligente que ela foi no passado. E, acima de tudo, discreta. Tão discreta que poucos conhecem a sua fascinante história.
A solidariedade do casal a perseguidos não se limitou à época do nazismo. Em 1964, eles ajudaram o jornalista e crítico literário Franklin de Oliveira a se exilar. Em 1968, quando as trevas do AI-5 desabaram sobre o País, Aracy, já viúva, escondeu em sua casa no Rio de Janeiro o cantor e compositor Geraldo Vandré, perseguido pela repressão política. Pelo seu trabalho em Hamburgo, em 1983 Aracy de Carvalho Guimarães Rosa foi incluída entre os quase 22 mil nomes que estão no Jardim dos Justos, no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Tratase de uma homenagem e um reconhecimento que o Estado de Israel presta aos góim (não-judeus) que ajudaram judeus a escapar do genocídio. Entre os mais famosos estão o empresário alemão Oskar Schindler - que inspirou o filme A lista de Schindler, de Steven Spielberg - e o diplomata sueco Raoul Wallenberg. Apenas outro brasileiro, o embaixador Luiz de Souza Dantas (1876-1954), recebeu a mesma honraria, em 2003. "Discreta, sem jamais ter caído na tentação de se promover por ter sido quem foi, Aracy paga hoje o preço do esquecimento", diz o historiador e escritor René Daniel Decol, empenhado no resgate dessa personagem. "Até sua influência sobre o escritor tem sido negligenciada pela crítica, pelos historiadores da literatura e pela mídia."
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